"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Arte em livros


Artista plástico Brian Dettmer cria suas peças a partir de livros antigos. 
para conhecer outras peças é só entrar no site de Brian:

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Reino das palavras: pesquisando no Real Gabinete Português de Leitura.


“Penetra surdamente no reino das palavras”
(Carlos Drummond de Andrade)


Eu ainda acredito que as palavras são parte de um mundo mágico, encantado, que se oferece aos poucos para aqueles que sedentamente buscam-no.
As bibliotecas muitas vezes nos transportam para este mundo tão ruidosamente silencioso.
Ontem sentei-me no Real Gabinete Português de Leitura, localizado no centro do Rio de Janeiro, como quem é transportado  não para o passado, mas simplesmente para o tempo sem tempo das palavras. Afundei-me profundamente naquela atmosfera inebriante e mágica de quem procura, espera e contempla as letras mudas que formam sons, viram fala, falas poesias, cantigas, preces.
Enquanto pesquisava fui lindamente interrompida por um grupo de crianças do sexto ano de uma escola municipal que adentrou respeitosamente o recinto – imagino que as instruções da professora foram extremamente eficazes, pois entram com zelo, contemplando respeitosamente o local. Certamente muitos demonstravam em suas faces o descontentamento por estarem ali, outros sabiam que adentravam um local deslumbrando, porém, chamou minha atenção um menino em particular...
Parou na porta enquanto entrava atabalhoadamente, como se surpreendesse com a descoberta de que ao caminhar pelo reino das palavras é preciso antes de tudo, quietude. O jovenzinho não sabia se sorria, se ficava boquiaberto, não sabia sequer para onde olhar. Revezava as expressões ainda paralisado, vislumbrava dali mesmo o mundo encantado das palavras. Achegou-se aos poucos, como quem cautelosamente pede permissão, e sorrindo longamente tocava as colunas como se pelo tato reconhecesse o local. Nunca tinha visto tantos livros, pude ler seus lábios enquanto demonstrava seu espanto para um colega de classe e ase aproximava de sua professora empenhada em explicar-lhes mais.
Acredito que uma das mais belas coisas em ser professor é justamente tomar o aluno pela mão e lhe sussurrar docemente “penetra surdamente no reino das palavras” e aos poucos apresentar-lhe linguagens, vida, palavras...
Foi uma bela interrupção. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Namore uma garota que lê


Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.
Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.
É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas  garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim.  E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até  porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que  pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe  monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.
Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.
Texto original: Date a girl who reads – Rosemary Urquico
Tradução e adaptação – Gabriela Ventura
Texto retirado daqui

domingo, 14 de agosto de 2011

Alberto Mussa - O trono da Rainha Jinga

Já anunciei em post anterior - relacionado ao romance de Miguel Sousa Tavares, Equador - que eu não gosto dos chamados romances históricos. Porém, se em momento anterior tirei o chapéu para Miguel Sousa Tavares, devo neste momento fazer o mesmo ao falar de Alberto Mussa. Fugi dos meus planos durante as férias, li livros que não pretendia e não terminei alguns ainda, mas, sigo em frente. Em uma das minhas visitas à Travessa encontrei os livros de Mussa, autor sobre o qual já tinha escutado falar bem. Uma professora me indicou, a mesma que indicou Mia Couto - que é hoje um dos meus favoritos. Comecei por um dos seus menores, O trono da rainha jinga é um livro policial que se passa no Rio de Janeiro colonial, século XVII. Por ser um livro policial seria uma grande bobagem anunciar aqui muito sobre a obra. Falarei brevemente portanto sobre a estratégia feliz do autor de fragmentar sua história, isso nos permite uma outra experiência ao ler o livro, como ver sob diferentes óticas  os acontecimentos- a partir do ponto de vista de cada personagem - e construir a partir disto nossa própria percepção sobre o que se passa nesta cidade. Algumas pessoas criticaram desejando que o livro fosse mais longo, porém, discordo, acho que o livro tem o tamanho ideal, deixa-nos com o gosto de "quero mais". Indico a leitura.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Para Lucy Barfield

Minha querida Lucy,

Comecei a escrever esta história para você, sem lembrar-me de que as meninas crescem mais depressa do que os livros. Resultado: agora você está muito grande para ler contos de fadas; quando o livro estiver impresso e encadernado, mais crescida estará. Mas um dia virá em que, muito mais velha, você voltará a ler histórias de fadas. Irá buscar este livro em alguma prateleira distante e sacudir-lhe o pó. Aí me dará sua opinião. É provável que, a essa altura, eu já esteja surdo demais para poder ouvi-la, ou velho demais para compreender o que você disser. Mas ainda serei o seu padrinho, muito amigo,

C. S. Lewis

(As Crônicas de Nárnia: O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa)

:D

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Leitura de férias!


Sempre aposto que vou ler mais do que realmente consigo, mas dessa vez a crise de abstinência é a culpada por tudo - foram seis meses sem ler literatura. 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Minhas Tardes com Margueritte

Tive a oportunidade de assistir ontem. Achei o filme adorável. Por ser alegre, por falar da vida, do amor e dos livros. De fato, um ode à leitura em suas diversas possibilidades. Belíssimo!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sempre um papo: Laura de Mello e Souza


Em minhas andanças pela internet, buscando coisas sobre a autora para fazer o PPT de um trabalho encontrei este bate-papo com Laura de Mello e Souza - historiadora que aprendi a admirar quando me apaixonei por América Portuguesa - e resolvi compartilhar.




quinta-feira, 16 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Leitoras e amigas: tesouros escondidos :)

Eu acredito que as palavras nos unem. Acredito sobretudo que as amizades surgem de forma inusitada, como tesouros escondidos. Certamente não estão prontas, esperando que alguém as encontre. Se constroem, gradativamente. Apesar do medo, das primeiras impressões. Talvez fazer amigos seja como deixar falar o diferente, e quem sabe ao ouvir, deixar entrar no cotidiano, na vida, no coração.
Construí uma amizade no corredor da biblioteca, no intervalo das leituras, nas pausas para o café. Primeiro esbarros acidentais, depois um ou outro comentário agendado para os intervalos, para enfim chegarmos aos lanches marcados entre o fim de um texto e o início de outro. Apesar dos interesses acadêmicos radicalmente diferentes, apesar de percepções do mundo praticamente equidistantes, apesar inclusive de nossa visão e experiência com relação ao divino... Eis-nos dividindo as conversas, as leituras, as vivências, as lágrimas, os risos, os abraços. No corredor de uma biblioteca encontrei um tesouro.
Há alguns meses atrás recebi de presente uma bela obra de Saramago chamada "o conto da ilha desconhecida". Ela sorriu quando me entregou o presente de aniversário atrasado, disse-me que o livro parecia comigo em certos aspectos, que eu ia gostar. Nada é mais raro do que alguém que sabe de antemão aquilo que vai te agradar, naturalizamos isso, parece-nos comum ou óbvio, mas é raro, requer tempo lendo o outro, requer contato, requer vivência.  Através daquela obra tomou-me pela mão e conduziu-me ao mundo mágico de Saramago, aquele fora meu primeiro encontro com o autor. Assustei-me com aquele presente. Sempre levo um susto quando sou lida. Com aquela singela e doce lembrança ela demonstrou que enquanto liamos juntas ela também me lera e eu a ela. Assustou-me perceber a minha transparência, mas isso logo se foi, depois senti-me em casa. Somos amigas. O livro conta a história de uma busca, uma busca pelo desconhecido. Conta a história de uma viagem e nos mostra que muitas vezes a maior aventura que podemos viver é justamente atravessar os tenebrosos mares que nos levam a um outro, que pode ser uma ilha, o amor e até uma amiga - ou uma leitora amiga né Clarissa?! ;). Tal como a amizade, que se faz na construção, a ilha desconhecida se faz no mar, é ela a própria busca por ela mesma.

sábado, 4 de junho de 2011

Rápido por quê?

Quando comecei a escrever o comentário ao texto do Felipe percebi que ele estava gigante, então resolvi responder postando um texto e incorporando o comentário no meio do texto.
Eu fui uma criança leitora, minha mãe leu para mim desde que eu consigo me lembrar. Por meses a fio lia a mesma história dublando os personagem - alguns ela lembra até hoje de quais eram as vozes e as falas. Porém, eu tive muita dificuldade para aprender a escrever. Eu lia bem mas, escrever era um suplício. Por mais surpreendente que possa parecer eu fui uma criança extremamente tímida. Poucos amigos. Poucas palavras. Vergonha de abraçar. Vergonha de sorrir. Vergonha até de pedir para ir ao banheiro. Sempre achei que eu era meio burrinha, afinal, todos os meus amigos escreviam tão bem... Minha caligrafia era horrenda - sim Eunícia, isso não é de hoje - e todos os professores reclamavam. Então, quando eu cheguei na segunda série eu conheci uma professora fabulosa que marcou minha vida de forma indelével. Apesar da minha extrema timidez, da minha horrenda caligrafia, das minhas notas vergonhas, de ser a piada da turma, apesar de tudo isso ela focou-se nos meus pontos fortes, elogiou-me, e descobriu enfim que meu problema não era uma burrice sem remédio, mas ausência de óculos. Ela foi uma professora incrível. Fico me perguntando se os professores não ganhariam mais elogiando seus alunos do que criticando-os apenas. Certamente concordo que as críticas são fundamentais para que se aprenda a ser sempre melhor, porém, são os elogios que nos mostram que existem coisas que fazemos bem. Podemos melhorar evidentemente, mas não fazemos tudo errado ou ruim.
Sim Felipe pode até ter lido rápido demais, mas também tinha se empenhado em fazer uma boa leitura, merecia pelo menos uma explicação do conceito de rápido da professora. Eu entendia poucas coisas, mas não era fruto de burrice e sim de não enxergar bem o quadro e de ser um pouco mais lenta para aprender. Encontrei uma professora paciente e amorosa. Se tem uma coisa que eu me lembro é exatamente de como eu era amada por ela. O amor fica.
Acredito profundamente que o magistério é um sacerdócio. Talvez falte um pouco disso a alguns professores: devoção. Transformar a escola em altar e cada aula em oração, sendo assim parte de uma liturgia que sempre falha, que está sempre incompleta, mas que se aperfeiçoa com o tempo. Então eu gosto de pensar que na segunda série eu não encontrei apenas uma professora, eu encontrei uma sacerdotisa, que virou um dos meus mais seguros exemplos. Sinto saudades dela.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Rápido demais

Dia desses um professor nos devolveu as primeiras provas do semestre e fez alguns comentários sobre elas. Um deles foi referente à escrita dos alunos. Na verdade, foi uma reclamação sobre como alguns alunos - na universidade - ainda apresentam sérios problemas de escrita, principalmente concordância, coerência, coesão e pontuação.
Deixando isto de lado, escrevo porque esta crítica do professor me fez lembrar dos meus primeiros dias de leitura. Considero que tive certa facilidade no aprendizado de leitura e escrita, embora fosse muito novo e tenha poucas lembranças. Gosto de dizer que aprendi a ler em uma escola municipal - tão abandonadas e desacreditadas - onde fiz a Classe de Alfabetização (o antigo CA), no ano de 1994. Lembro do Fusca "Café com leite" do meu avô à porta da escola, na hora da saída. Eu gostava de ler, embora, quando criança, sempre achasse que houvesse outras coisas mais interessantes para fazer. Não fui uma criança leitora. Meus pais nunca leram para mim na hora de dormir. Morávamos em um bairro longínquo na zona oeste da cidade e a livraria mais próxima ficava a algumas horas de ônibus ou de carro dali. A primeira vez que vi uma livraria foi depois que nos mudamos para a zona sul, em 2003. O interesse por leitura só cresceu mesmo no final da adolescência e com a universidade.
Mas, voltando à leitura na infância, o que realmente estava lembrando e queria escrever aqui, foi quando na 1ª ou 2ª séries (hoje 2º ou 3º anos, se não me engano), a professora separou um dia no qual chamava cada aluno à sua mesa para que lessem em voz alta para ela. Certamente uma forma de avaliar a capacidade de compreensão e o desenvolvimento da leitura de seus alunos. Quando chegou minha vez, fui todo confiante. Eu achava que lia bem. Queria impressionar a professora. Não lembro mais o que li, mas li. Terminei triunfante. O comentário dela? "Você está lendo rápido demais." Só. Frustrante. O que aquilo queria dizer? Eu não sabia. Eu não entendi e não perguntei a ela, é claro. Vocês me conhecem. Voltei, meio decepcionado, confesso, para o meu lugar. Hoje acredito que o significado do "Você está lendo rápido demais" fosse "Você lê sem atentar para a pontuação." Apenas um pouco mal explicado, não?
Há pouco tempo contei esta história para minha mãe, professora que sempre trabalhou com alfabetização. Ela soltou uma gargalhada e ficamos tentando entender o que "ler rápido demais" significa. Chegamos à conclusão acima. É um acontecimento que acho divertido da minha infância e da minha história com a leitura. A crítica feita à turma pelo professor da universidade me fez lembrar disso. Quis compartilhar. :D

domingo, 29 de maio de 2011

Dedicatória...

"Kaleba. 
Que nunca te esqueças de ti
que nunca te esqueças de nós
alçando o vôo da liberdade 
infinita num cântico sagrado
cântico tenor
cântico-amor
Feliz Natal,
André Araújo"


Enquanto eu estudo, leio poesia. Estava na biblioteca da PUC recentemente quando pedi ao armazém um dos livros de Cecília Meireles, "Cânticos".  Deparei-me com esta bela dedicatória. O livro marcado pelo tempo, manchado e manuseado. Tentei pesquisar quem seriam os dois personagens, Kaleba e André Araújo. Na ausência de resposta, tentei imaginar. Então deixei-os em paz. Mas sigo encantada pela dedicatória que diz tanto em meio as manchas do tempo que marcam o livro editado na década de 1980. De fato como diz Mia Couto, as palavras - ainda que nossas - não moram em nós. As de André o pertenceram, mas agora, são um pouco minhas também. Seguem dizendo a tantos outros, ainda que o destino primeiro tenha sido Kaleba.
Enfim, embaralhando André, Mia e Cecília sorri:

"acima de nós, em redor de nós
as palavras voam

E às vezes pousam"

(Cecília Meireles)
As de André pousaram em mim...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Lendo Cecília Meireles

Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

Cecília Meireles

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Muitas formas de dizer

"A mãe da minha da mãe falava com os olhos e acho que por isso o carinho ficou sendo azul pra sempre.
A mãe do meu pai falava num dialeto que eu não conseguia entender e acho que por isso aprendi a ler sorrisos.
As palavras se dizem de muitos jeitos."
 
(Silvana Tavano)

Ler em qualquer lugar

domingo, 15 de maio de 2011

Para quem gosta de livros

Li hoje no Blogão de Alexandre, autor de livro infantil e pai de amigo de minha filha: há nas bancas e online uma revista de boa qualidade dedicada à Literatura. Chama-se CONHECIMENTO PRÁTICO REVISTA LITERATURA. Nos links vão acessar respectivamente o blog do Alex Gomes e a revista. Divirtam-se nos dois.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Memórias da minha meniniçe

Na Quarta série a escola preparou uma feira literária na qual cada aluno da sala tinha que recitar uma poesia do Pedro Bandeira.Eu escolhi uma que  me identifiquei muito, pois ela transmitia tudo o que eu sentia na época. Foi muito difícil recitar a poesia, eu tive que gravá-la e ela era grande, fora à vergonha que eu senti em falar em público.Mas deu tudo certo, consegui recitá-la e essa experiência me marcou muito. Ainda lembro com muito carinho desse dia, da poesia e do livro. Acabando com o suspense, a coloco na íntegra. 


“Vai já pra dentro, menino!” IN: BANDEIRA, Pedro. Mais respeito eu sou criança!São Paulo: Moderna, 1994.

Vai já pra dentro, menino!
Via já pra dentro estudar!
É sempre essa lengalenga
Quando o que eu quero é brincar...                                                        

Eu sei que aprendo nos livros,
Eu sei que aprendo no estudo,
Mas o mundo é variado
E eu preciso saber tudo!

Há tanto pra conhecer,
Há tanto pra explorar!
Basta os olhos abrir,
E com o ouvido escutar.

Aprende-se o tempo todo,
Dentro, fora, pelo avesso,
Começando pelo fim,
Terminando pelo começo!

Se eu me fecho lá em casa,
Numa tarde de calor,
Como eu vou ver uma abelha
A catar pólen na flor?

Como eu vou saber da chuva,
Se eu nunca me molhar?
Como eu vou sentir o sol,
Se eu nunca me queimar?

Como eu vou saber da terra,
Se eu nunca me sujar?
Como eu vou saber das gentes,
Sem aprender a gostar?

Quero ver com os meus olhos, quero a vida até o fundo,
Quero ter barro nos pés,
Eu quero aprender o mundo!

Rubem Alves e a Leitura

Prazer da leitura - Rubem Alves

Rubem Alves
Gaiolas ou Asas – A arte do voo ou a busca da alegria de aprender
Porto, Edições Asa, 2004

Excertos adaptados

Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem de "alfabeto". "Alfabeto" é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem. É a mesma coisa que "abecedário". A palavra "alfabeto" é formada com as duas primeiras letras do alfabeto grego: "alfa" e "beta". E "abecedário", com a junção das quatro primeiras letras do nosso alfabeto: "a", "b", "c" e "d". Assim sendo, pensei a possibilidade engraçada de que "abecedarizar", palavra inexistente, pudesse ser sinónimo de "alfabetizar"...

"Alfabetizar", palavra aparentemente inocente, contém a teoria de como se aprende a ler. Aprende-se a ler aprendendo-se as letras do alfabeto. Primeiro as letras. Depois, juntando-se as letras, as sílabas. Depois, juntando-se as sílabas, aparecem as palavras...

E assim era. Lembro-me da criançada a repetir em coro, sob a regência da professora: "bê-á-bá; bê-e-bê; bê-i-bi; bê-ó-bó; bê-u-bu"... Estou a olhar para um postal, miniatura de um dos cartazes que antigamente se usavam como tema de redacção: uma menina deitada de bruços sobre um divã, queixo apoiado na mão, tendo à sua frente um livro aberto onde se vê "fa", "fe", "fi", "fo", "fu"...

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da música se deveria chamar "dorremizar": aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação musical em que os alunos ficassem a repetir as notas, sob a regência da professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música aparecesse...

Todo a gente sabe que não é assim que se ensina música. A mãe pega no bebé e embala-o, cantando uma canção. E a criança percebe a canção. O que o bebé ouve é a música, e não cada nota, separadamente! E a evidência da sua compreensão está no facto de que ele se tranquiliza e dorme – mesmo nada sabendo sobre notas!

Eu aprendi a gostar de música clássica muito antes de saber as notas: a minha mãe tocava-as ao piano e elas ficaram gravadas na minha cabeça. Somente depois, já fascinado pela música, fui aprender as notas – porque queria tocar piano. A aprendizagem da música começa como percepção de uma totalidade – e nunca com o conhecimento das partes.

Isto é verdadeiro também sobre aprender a ler. Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a história. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. A criança volta-se para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está a ler.

Num primeiro momento, as delícias do texto encontram-se na fala do professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no acto de ler para os seus alunos, é o "seio bom", o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de gramática ou de análise sintáctica. Não foi nelas que aprendi as delícias da literatura. Mas lembro-me com alegria das aulas de leitura. Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professora lia, interpretava o texto, e nós ouvíamos, extasiados. Ninguém falava.

Antes de ler Monteiro Lobato, eu ouvi-o. E o bom era que não havia exames sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa da leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder a questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro...

Vejo, assim, a cena original: a mãe ou o pai, livro aberto, a ler para o filho... Essa experiência é o aperitivo que ficará para sempre guardado na memória afectiva da criança. Na ausência da mãe ou do pai, a criança olhará para o livro com desejo e inveja. Desejo, porque ela quer experimentar as delícias que estão contidas nas palavras. E inveja, porque ela gostaria de ter o saber do pai e da mãe: eles são aqueles que têm a chave que abre as portas de um mundo maravilhoso!

Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor:maternagem – continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afectuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: Por favor, ensine-me! Eu quero poder entrar no livro por minha própria conta...

Toda a aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontece. Há aquele velho ditado: É fácil levar a égua até ao meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber. Traduzido pela Adélia Prado:Não quero faca nem queijo. Quero é fome. Metáfora para o professor.

Todo o texto é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele desliza sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto apossa-se do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se luta com as palavras, se não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos logo que ela acabe.

Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que os seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida nas nossas escolas a prática dos "concertos de leitura". Se há concertos de música erudita, jazz – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão o prazer de ler.

E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de termos sido tocados pela sua beleza, é impossível esquecer. A leitura é uma droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é só deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos – gramática, usos da partícula "se", dígrafos, encontros consonantais, análise sintáctica – que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto. E a missão do professor?

Acho que as escolas só terão realizado a sua missão se forem capazes de desenvolver nos alunos o prazer da leitura. O prazer da leitura é o pressuposto de tudo o mais. Quem gosta de ler tem nas mãos as chaves do mundo. Mas o que vejo a acontecer é o contrário. São raríssimos os casos de amor à leitura desenvolvido nas aulas de estudo formal da língua.

Paul Goodman, controverso pensador norte-americano, diz: Nunca ouvi falar de nenhum método para ensinar literatura (humanities) que não acabasse por matá-la. Parece que a sobrevivência do gosto pela literatura tem dependido de milagres aleatórios que são cada vez menos frequentes.

Vendem-se, nas livrarias, livros com resumos das obras literárias que saem nos exames. Quem aprende resumos de obras literárias para passar, aprende mais do que isso: aprende a odiar a literatura.

Sonho com o dia em que as crianças que lêem os meus livrinhos não terão de analisar dígrafos e encontros consonantais e em que o conhecimento das obras literárias não seja objecto de exames: os livros serão lidos pelo simples prazer da leitura.

Retirado do blog  Leitura

quinta-feira, 5 de maio de 2011

domingo, 1 de maio de 2011

Amigos e Leituras: Dois anos de Leitores Amigos

Eunícia sempre comenta sobre como é bom rirmos em conjunto. Seja pessoalmente ou virtualmente. Rir é o tipo de coisa boa de fazer com alguém. Como quando você é atingido por uma crise de riso junto com aquela amiga que faz com qualquer minúsculo gesto se torne o mais engraçado do mundo. Clarissa com alguma freqüência lê ao meu lado. Estudamos temas diferentes, em períodos diferentes, com focos diferentes, e mesmo assim, caminhamos juntas. Pois é possível ler em conjunto distintas configurações textuais. Roberta constantemente se aventura comigo pela desventura ou peripécia da vida. Ela me conta sobre o cotidiano, sobre ser mãe, esposa, historiadora e etc. Sobre um mundo que eu ainda não leio. Apesar da minha ignorância e imaturidade, ela me convida para partilhar sua leitura. Rafael Serafim diverte-nos a todos com a sua perspectiva tresloucada do mundo. Mesmo as coisas mais absurdas vem acrescidas da possibilidade de rirmos em conjunto – coisa que a Eunícia nos lembra que é fundamental. Luaninha com constância me ensina a ler um mundo cru. Livra-me da ingenuidade insistente com que caminho. Mas neste trajeto, escolhe sempre uma poesia para me embalar e para não deixar meu coração endurecer. Rômulo – um dos muitos autores fantasmas deste blog – consegue me ensinar sobre as leituras fabulosas que fazemos quando nos entregamos por completo ao nosso objetivo. Rafael Gota faz com as risadas aumentem, cresçam em volume e freqüência. Ler o mundo ao seu lado é sempre mais divertido. Felipe tem um jeito especial de me convidar para ler o mundo de mãos dadas. (e ao lado dele o mundo sempre me parece mais belo). Em certo post – no primeiro ano do blog – Eunícia mostrou as gavetas de Clarice que ficaram em exposição no CCBB. Estamos descobrindo o mundo e novas leituras, encontrando outras gavetas. É tão bom fazer isso em conjunto... Parabéns Leitores Amigos, pelo segundo ano do nosso Blog. É um prazer ler ao lado de vocês. Eunícia tem razão, certas coisas são melhores conjugadas. 

sábado, 16 de abril de 2011

Teolinda 2

Como não se encantar pela proposta? Como não se encantar pela autora?

Teolinda Gersão

TEOLINDA GERSÃO
Nunca ouvira falar, mas o pequeno fragmento - que copio abaixo - e a apreciação de Dora - alguém que não conheço, mas com quem partilho idéias, sentimentos e percepções - a colocaram como próxima de uma lista de desejos...

A cidade de Ulisses, Teolinda Gersão.

Jovens e Livros


Propaganda (engraçada) de incentivo à leitura. :)
Felizmente existem muitos jovens que gostam de ler.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Livraria Cultura

Minha encomenda chegou!


veio embrulhada para presente (sem custo adicional!!)



Presente de Papis e Mamis. :)
A entrega expressa realmente funciona e o livro veio muito bem embalado. Já gosto da Livraria da Cultura sem ainda ter colocado os pés nela. :)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fluidez...

“A viagem termina quando encerramos nossas fronteiras anteriores. Regressamos a nós mesmos e não a um lugar”.
(Mia Couto, O outro pé da sereia)

Sempre me surpreendo com a capacidade que um livro tem de continuar ecoando no interior da alma. Volto sempre a mim mesma, mas as viagens não estão encerradas. As metamorfoses que se dão em mim mesma estendem a excursão. Li “O outro pé da sereia” em um momento oportuno. Tinha acabado de terminar um curso que fizera como ouvinte durante o primeiro semestre de 2010 chamado “Identidades, alteridades e memória: história cultural e América portuguesa”. O semestre se revelou interessante, primeiro pelo profundo conflito pessoal. O segundo motivo foi o enfrentamento de medos antigos e enfim, a superação de uma outra crise relacionada à História que se desenvolvera no ano anterior. As vivências se misturam com as leituras. A história se mesclava com a vida. Ao fim, ao cabo, deparei-me com Mia Couto novamente, e a eloqüência deste encontro sempre me traz um sorriso ao rosto. Era o momento em que os motivos pelos quais eu continuaria a estudar história haviam acabado de se consolidar dentro de mim, de forma que as tensões se tornaram menos relevantes. Momento em que aprendi a ver a fluidez das identidades e as construções das alteridades, mais do que isso, eu percebia enfim que o cambiar não é invariavelmente um indício de fraqueza. Eu descobria naquele momento o cinza no meio do preto/branco que norteara minhas ações e formulações até aquele momento. No espaço indefinido da mistura entre preto e branco as coisas não estão dadas, ou completas, elas se fazem, são construção, tal como minhas identidades. Da mesma forma a religiosidade e a devoção que Mia Couto descreve estão em construção permanente e se misturam à experimentação diária de cada personagem. O livro conta duas histórias separadas pelo tempo, uma no século XVI e a outra no século XXI, os personagens distintos se apartam em quase todos os aspectos, mas encontram ponto de contato na forma como provam a devoção e a santidade – não apenas nas semelhanças, mas sobretudo nas diferenças. Descobre-se no cinza, na fluidez de fronteiras, alguma convergência.          
Regresso enfim a mim mesma. Em breve fará um ano que li este livro, mas ele segue vivo, misturado ao que sou no momento, mesmo que eu seja multiplicidade. E as fronteiras movem-se com freqüência, adiando o término da viagem. Talvez eventualmente eu aviste Ítaca, porém, prefiro viajar indefinidamente, estando constantemente em construção, na mistura eterna entre os meus muitos ‘eus’ e os múltiplos ‘outros’. Enfim, estou continuamente retornando a mim mesma.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quatrieme de couverture

Uma música francesa bastante animadinha que canta o encontro de dois leitores e que pensa o que se pode saber do outro pelos livros que escolhe folhear e também o que ela/ele pode vir a pensar deste que narra ao perceber os livros que também lê.


Quatrième De Couverture
Vicente Delerm


23 juillet, Paris s'éteint
Et sur le Quai des Grands Augustins
Nous tournons les pages à l'improviste
Devant l'étalage d'un bouquiniste
Je ne vous connais pas, je vous frôle,
Là sur le Quai, épaule contre épaule.
Nous jetons en même temps un oeil sur
Les quatrièmes de couverture.
Une biographie de Signoret
Voilà le genre de choses qui vous plaît.
Un storyboard de Fellini
Le genre de truc qui vous fait lever la nuit.
Je vous devine à Juan-les-Pins Un Press-Pocket entre les mains
Emportez-vous à Maisons-Laffite Ce Boris Vian en 10/18?
Je connais bien votre poignet Je connais vos mains, votre bracelet.
J'aime la manière dont vous reposez Tristan Corbière sur le côté
Qu'allez-vous donc penser de moi si J'attrape en rayon "Les années Platini"?
Finalement, je préfère me rabattre
Sur la NRF de 54 300 pages sur la guerre d'Espagne
Le genre de chose qui nous éloigne
Un vieux Sempé en Livre de poche
Le genre de truc qui nous rapproche
Guide du Routard du Sri Lanka Dieu soit loué,
on ne se connaît pas. Hitchkock-Truffaut : les "Entretiens"
Nous avons tant de choses en commun

sábado, 26 de março de 2011

Livrarias Charmosas por "La petite Poupée"

A autora deste blog "La Petite poupée" fez uma seleção das livrarias mais charmosas  que ela conhece. Eu escolhi 3 das quais ela mostra. Para ver o post na íntegra, basta clicar no link

Lello & Irmão, Porto - Portugal.


El Ateneo, Buenos Aires - Argentina


Selexyz Bookstore, Maastricht - Holanda

Se na minha casa tivesse escada...




sábado, 19 de março de 2011

Canto de leitura

A simplicidade e a luminosidade cativaram-me no ato. Não podia deixar de registrar.
(via Lolalina)

"Educação e Arte" ou a arte da educação.

Li este texto hoje e meio que inspirada pelo texto da Eunícia transcrevi aqui.
:)
--
Educação e Arte
Daniel Munduruku

Aprendi com meu povo o verdadeiro significado da palavra educação ao ver o pai ou a mãe da criança índia conduzindo-a passo a passo no aprendizado cultural. Pescar, caçar, fazer arcos e flechas, limpar o peixe, cozê-lo, buscar água, subir na árvore... Em especial, minha compreensão aumentou quando, em grupo, deitávamos sob a luz das estrelas para contemplá-las procurando imaginar o universo imenso diante de nós, que nossos pajés tinham visitado em sonhos. Educação para nós se dava no silêncio. Nossos pais nos ensinaram a sonhar com aquilo que desejávamos.
Imagem: Mariana Massarani
Compreendi, então, que educar é fazer sonhar. Aprendi a ser índio, pois aprendi a sonhar ("viajar", na linguagem do não-índio). Ia para outras paragens. Passeava nelas, aprendia com elas.
Percebi que, na sociedade indígena, educação é arrancar de dentro para fora, fazer brotar os sonhos e, às vezes, rir do mistério da vida.
Descobri, depois, que, na sociedade pós-moderna ocidental, educação significa a mesma coisa: tirar de dentro, jogar para fora. Mas isso fica na teoria. Decepcionei-me ao ver que os professores faziam o contrário. Punha de fora para dentro. Os sonhos ficavam enlatados dentro das crianças e jovens. Não tinham tempo de sair. Aprender, para o ocidental, é ficar inerte ouvindo um montão de bobagens desnecessárias. As crianças não tem tempo para           sonhar, por isso acham a escola uma grande chatice.
Não escolhi ser índio, esta é uma condição que me foi imposta pela divina mão que rege o universo, mas escolhi ser professor, ou melhor, confessor dos meus sonhos. Desejo narrá-los para inspirar outras pessoas a narrar os seus, a fim de que o aprendizado aconteça pela palavra e pelo silêncio. É assim que "dou" aulas: com esperança e com sonhos...

(MUNDURUKU, Daniel. "Educação e Arte" In: Histórias de índios. São Paulo: Companhia das letrinhas, 2008.)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Os outros interesses...

Os 10 livros

Os livros, as idéias e as pessoas

Hoje trouxe para casa 10 livros de uma só vez. Gasto vultoso na livraria, possível apenas pelo dinheiro de um projeto. Enquanto assinava e datava cada um (sempre coloco o ano da aquisição), pensava no que seria deles quando eu já não existisse mais. Meus filhos seguem rumos profissionais bem distintos dos meus e ainda não cheguei ao tempo de ser avó e adivinhar futuros outros que poderiam transformar-se e transformar através deles...

Lembrei do Ilmar e da Guida e da iniciativa da Casa... Mas para além da dimensão prática, fui sequestrada por outras imagens e percepções... Como se as palavras ganhassem corpo e voassem, como se o que dos livros fisicamente existe nada fosse além daquilo que passa a habitar nossos corações e mentes. Meus livros são para mim, são viagens sem fim. Mas meus livros são também para meus alunos e amigos, aqueles que, ao ouvirem as palavras faladas, recuperam e re-inventam aquelas anteriores palavras impressas.

Fiquei tranquila. Os livros estão aqui, mas também ali e em qualquer outro lugar. As chamas ou o tempo podem fisicamente destruí-los, mas eles continuarão vivos.

Hora de dormir. Hora de dormir?


Imaginative photographer Yusuke Suzuki  has created a page turner of a bed  that looks like an oversized book. At night it is opened up for sleepy heads to sleep in and during the day it is shut closed to create enough space for children to play in their room.

terça-feira, 1 de março de 2011

Estantes


***
"Acho a criatura humana muito mais interessante no período infantil do que depois de idiotamente tornar-se adulta. (...) Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar" 
(Monteiro Lobato)



Maria Eduarda me visita com frequência. Ela é curiosa como algumas meninas de 6 anos são, nascidas para a eterna novidade do mundo de que Pessoa fala. Duda vem e vai. Poucas vezes assiste um filme inteiro, ela perde a paciência, raramente brinca por mais de uma hora da mesma coisa, a trama e os brinquedos mudam com rapidez, mas ouve incansável diversas vezes a mesma história do mesmo livro que está na minha estante e que ela tanto ama. Toda vez que ela dorme na minha casa senta-se na minha cama e espera que eu lhe conte suas duas histórias favoritas: "Marcelo, marmelo, martelo" e "A Menina que não era maluquinha II", ambos escritos por Ruth Rocha, e só ouve alguma história nova se eu prometer que lerei estes dois no final. No primeiro ela gosta especialmente da entonação da minha voz quando eu leio o trecho em que Marcelo quer saber porque ele não se chama martelo ou marmelo , no segundo acha divertidíssima a forma como a menina que não era maluquinha fala com sua professora sobre o Brasil e os índios. Já li cinco vezes a mesma história e tantas vezes ela me pede para repetir os mesmos trechos. Me divirto tanto quanto ela certamente. Recentemente, quando estava arrumando o quarto, Duda tirou os livros do armários e cismou que os queria na prateleira do seu quarto, quando sua mãe perguntou o motivo ela disse: "Quero ter uma estante que nem a da Agnes". Quando a mãe dela me contou eu sorri por dentro e por fora, lembrei de que quando eu era criança era eu quem dizia: "quero ter uma estante como a do meu avô". Gosto de pensar que a Duda está descobrindo como é bom viver morando nos livros. :)  

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Melancolia

Existe uma melancolia deliciosa em terminar um livro, no meu caso encerrei uma trilogia maravilhosa quando terminei de ler o último livro da Trilogia Mundo de Tinta escrito por Cornelia Funke.
Terminei a aventura no início de Janeiro, mas procrastinei a escrita na tentativa de guardar em mim um pouco mais das palavras e das belezas do livro antes de compartilhar. Admito, é uma atitude um pouco egoísta, porém, sempre em tempo, escreverei algumas breves linhas sobre o livro agora.
Morte de Tinta surpreende. Primeiro por sua densidade e complexidade apesar de ser catalogado como livro infanto-juvenil, depois pelas escolhas estilísticas da autora, pela criatividade e sensibilidade que uma história de fantasia necessita e que são especialmente exploradas neste último volume da série, e enfim, pelo sentimento de continuidade que a obra deixa em seu leitor. A trilogia como um todo é fantástica, a autora dá pequenos mergulhos nas almas dos personagens, permitindo-nos ter um vislumbre da complexidade que cada um deles carrega. Não conhecemos inteiramente cada um deles, eles nos surpreendem, mesmo em um livro final onde as ações poderiam já ser previsíveis. Personagens antes odiados se tornam apaixonantes - e outros que eu amava passei a odiar -, Cornelia Funke conseguiu reter nas letras a ambiguidade que vivenciamos no mundo, conseguiu traduzir as decepções de corações jovens e a beleza de amores antigos.
O livro é fantástico, fecha de forma brilhante a aventura do primeiro e deixa-me como um gostinho de quero mais na boca.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Presente de Natal: para ler deitada no chão

 A compra do presente de natal foi uma odisséia. Primeiro a dificuldade em encontrar o presente, depois, para conseguir trocar o produto defeituoso. Apesar das complicações para troca - que não quero comentar para não me irritar novamente - finalmente consegui localizar com a Saraiva uma filial onde poderia trocar o presente.
Cheguei em casa com o peso enorme da edição especial, contendo em três enormes volumes todas as aventuras de Calvin e Haroldo, ou Hobbes no original em inglês.


 Os livros são grandes e pesados por isso o melhor lugar para ler é certamente o chão. Debruçada sobre as páginas. Essa é uma típica leitura das tardes nas férias... para relaxar e rir quando Dostoiévski - leitura oficial das férias - se tornar pesado demais.