"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

sábado, 11 de dezembro de 2010

'Com as palavras lavamos nossas vidas'

Imagem por Will Washford

“Em carta de 1948, Graciliano Ramos compara o trabalho do escrito à rotina das lavadeiras. Fala das velhas lavadeiras alagoanas quem inclinadas sobre a água, em um ritual hipnótico, dão uma primeira lavada em suas roupas, torcem-nas, molham novamente, voltam a torcer, em um teatro sem fim. Só depois, elas mergulham a roupa no anil e, enfim, a ensaboam. Mas tudo recomeça. Diz Graciliano: “Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota”. Da repetição interminável, arrancam a existência.
             As palavras de Graciliano me chegam em outra carta, despachada do Recife pelo escritor Fernando Monteiro. Eu uso, agora, como um marcador de páginas enquanto leio “O senhor vai entender” (Companhia das Letras, tradução de Maurício Santana Dias), novela do italiano Claudio Magris. A carta de meu amigo contém outra idéia de Graciliano; “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”. Embaralhando os dois pensamentos, arrisco-me a pensar: com as palavras, lavamos nossas vidas."
(José Castello. “Magris no elevador” (Fragmento). Caderno prosa e verso. O Globo.)

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Enquanto escrevo o artigo de cada semestre lembrei-me deste fragmento que me foi apresentado pelo professor Ilmar Mattos em aula, foi uma das epígrafes do curso de LEAH (Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História). Compartilho com os leitores amigos então, não apenas pela beleza que o fragmento contém, mas também pela angústia que me passa graças aos diversos momentos em que meu esmero com a escrita deixa muito a desejar. 

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