"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Descoberta Recente

Recebi de presente em amigo oculto recente o Caderno de Sonetos de Tite de Lemos. Não conhecia o poeta ou a beleza de seus escritos. Compartilho com outros da mesma forma que compartilharam comigo.

I

A sombra o longo pátio visitava
e a sombra me assombrava. Ainda assombra
Porque brilhava o sol havia sombra
como um senhor carrega sua escrava


Não sei se sonho agora ou se sonhava:
na paisagem que vejo ainda há sombra
e a sombra que lá baila, ao léu, me assombra
a alma covarde num papel de brava


As maçãs me fugiram pelos dedos
com as águas de rápidos regatos
que passaram mais eu não vi passar


A tarde vem tecer velhos enredos.
Costura e recostura antigos fatos
como se a vida fosse algum tear. 

domingo, 19 de dezembro de 2010

Encontro na Livraria

Moro em uma casa cheia de leitores, portanto, sair e ir à livraria é sempre uma festa. Hoje fomos celebrar a vida - como em geral fazemos - e comprar o meu presente de natal, na livraria. Enquanto procurava presentes para outras pessoas encontrei com uma professora da faculdade, a mesma que indicou-me a leitura do Mia Couto. Em poucos minutos paradas em frente a mesma estante ela me indicou três autores diferentes e ofereceu algumas dicas interessantes para presentes, algumas eu me darei de presente e outras darei aos meus amigos que faltam se presenteados.
Quando saí da livraria fiquei pensando sobre como pode ser divertido encontrar nas livrarias alguém que lê bastante coisas completamente diferentes daquilo que você lê. Essa mistura de leituras é algo tão delicioso e é o que torna esse blog tão querido. Esta é a segunda virada de ano do Leitores Amigos e o encontro com minha professora me lembrou dos nossos encontros e misturas virtuais de leituras diversas e multifacetadas de muitos autores e também da própria vida.
Que venham novos encontros e reencontros...

sábado, 18 de dezembro de 2010

Le Petit Nicolas: uma nova alfabetização


Eu me lembro ainda da descoberta que vivi quando aprendi a ler pela primeira vez. E agora, aprendendo a ler pela terceira vez, a descoberta continua sendo deliciosa. Como parte das atividades e projetos do semestre minha turma e eu lemos o primeiro livro da parceria de Sempé e Goscinny, Le Petit Nicolas. O livro que foi recentemente adaptado para as telas do cinema é simplesmete maravilhoso. Gargalhei diversas vezes ao ler o livro, o primeiro que li em francês. Assisti o filme no cinema e devo admitir que não sei como não me engasguei com toda aquela pipoca enquanto chorava de rir assistindo o filme. Lembrei-me muito de mim mesma e da minha infância lendo o livro e vendo o filme, pois eu era - como o pequeno Nicolas - muito levada e sapeca, sempre acabava dentro das maiores confusões e aventuras na companhia dos meus melhores amigos. 
Ouvir e compreender o francês oral é certamente fantástico, porém, ser capaz de ler um livro é simplesmente magnífico. O melhor é me surpreender de novo, passar pelo espanto inicial do qual Pessoa fala, como se estivesse sendo alfabetizada pela primeira vez. :)
Para os que não leram o livro aviso que grande parte das histórias já foi traduzida para o português. Além disso, se houver oportunidade, assistam o filme, livro e filme são maravilhosos!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Acender-se


Imagem por Will Washford


"Eis que aprendi
Nesses vales onde afundam os poentes:

Afinal, tudo são luzes
E a gente se acende é nos outros.
A vida é um fogo,
Nós somos suas breves incandescências."

Mia Couto. 
"Um rio chamado tempo, uma casa chamada Terra"


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Alguns livros continuam falando com a gente mesmo depois de muito tempo...

sábado, 11 de dezembro de 2010

'Com as palavras lavamos nossas vidas'

Imagem por Will Washford

“Em carta de 1948, Graciliano Ramos compara o trabalho do escrito à rotina das lavadeiras. Fala das velhas lavadeiras alagoanas quem inclinadas sobre a água, em um ritual hipnótico, dão uma primeira lavada em suas roupas, torcem-nas, molham novamente, voltam a torcer, em um teatro sem fim. Só depois, elas mergulham a roupa no anil e, enfim, a ensaboam. Mas tudo recomeça. Diz Graciliano: “Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota”. Da repetição interminável, arrancam a existência.
             As palavras de Graciliano me chegam em outra carta, despachada do Recife pelo escritor Fernando Monteiro. Eu uso, agora, como um marcador de páginas enquanto leio “O senhor vai entender” (Companhia das Letras, tradução de Maurício Santana Dias), novela do italiano Claudio Magris. A carta de meu amigo contém outra idéia de Graciliano; “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”. Embaralhando os dois pensamentos, arrisco-me a pensar: com as palavras, lavamos nossas vidas."
(José Castello. “Magris no elevador” (Fragmento). Caderno prosa e verso. O Globo.)

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Enquanto escrevo o artigo de cada semestre lembrei-me deste fragmento que me foi apresentado pelo professor Ilmar Mattos em aula, foi uma das epígrafes do curso de LEAH (Laboratório de Ensino e Aprendizagem em História). Compartilho com os leitores amigos então, não apenas pela beleza que o fragmento contém, mas também pela angústia que me passa graças aos diversos momentos em que meu esmero com a escrita deixa muito a desejar. 

"I wait on every word"


Tirei o lindo desenho daqui