"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nada de novo no front...


"Este livro não pretende ser um libelo e nem uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma aventura para aqueles que se deram face a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma geração de homens que, mesmo tendo escapado às granadas, foram destruídos pela guerra."
(Erich Maria Remarque. Nada de novo no front. Porto Alegre: L&PM, 2010.)

Ao terminar de ler este livro, não sei exatamente o que escrever aqui...

É o tipo de leitura que tem o poder de nos deixar pensativos por longo tempo. Se tenho que descrever o livro em poucas palavras, fico com as do autor do pequeno resumo que acompanha a edição: "assustadoramente comovedor".

Erich Maria Remarque, o autor, combateu nas trincheiras alemães da Primeira Guerra Mundial. Foi ferido três vezes, uma delas gravemente. Na década seguinte tomou notas dos horrores que viveu na frente de batalha, formando o núcleo deste seu livro. Nada de novo no front (Im Western Nichts Neues) foi publicado em 1929, sendo considerado até hoje um dos mais importantes romances pacifistas do século XX. É de impressionar como a experiência vivida pelo autor flui das páginas. Sua impressionante e assustadora descrição do front ocidental e o poder psicológico que exercia naqueles soldados, rapazes de 18 anos que para lá eram enviados para combater, tornam o texto violentamente vivo; as violências da guerra, a descrição de corpos mutilados e a crescente indiferença em relação a tudo isto, os sofrimentos, os momentos de descanço da tropa, as diversas maneiras de adaptação e o cotidiano daqueles jovens soldados são apresentados pelo autor de forma viva e diferente de se ver a guerra. Remarque também traz profundas reflexões e apresenta suas pesadas críticas ao narrar os crescentes questionamentos de seus personagens, a maioria soldados, em relação ao conflito e aos motivos que levam o homem a fazer a guerra. Acho que, destas críticas, a que mais me sinto tentado a registrar aqui é a que diz respeito à influência dos professores.

Comovidos pelos discursos inflamados e ideais nacionalistas de um de seus professores, o protagonista Paul Bäumer e sua turma dirigem-se ao destacamento do bairro e se alistam. Ao ver do que se trata realmente uma guerra, Bäumer nos deixa o seguinte testemunho:

"Os professores deveriam ter sido para nós os intermediários, os guias para o mundo da maturidade, para o mundo do trabalho, do dever, da cultura e do progresso e para o futuro. Às vezes, zombávamos deles e lhes pregávamos peças, mas, no fundo, acreditávamos neles. A idéia de autoridade da qual eram os portadores, juntou-se em nossos pensamentos uma melhor compreensão e uma sabedoria mais humana. Mas o primeiro morto que vimos destruiu esta convicção. Tivemos que reconhecer que a nossa geração era mais honesta do que a deles; só nos venciam no palavrório e na habilidade. O primeiro bombardeio nos mostrou nosso erro, e debaixo dele ruiu toda a concepção do mundo que nos tinham ensinado.

Enquanto eles continuavam a escrever e a falar, víamos os hospitais e os moribundos; enquanto proclamavam que servir ao Estado era o mais importante, já sabíamos que o pavor de morrer é mais forte. Nem por isto nos amotinamos, nem nos tornamos desertores, nem mesmo covardes - todas estas expressões vinham-lhes com muita facilidade. Amávamos nossa pátria tanto quanto eles e avançávamos corajosamente em cada ataque; mas, agora, já sabíamos distinguir, aprendemos repentinamente a ver; e, do mundo que haviam arquitetado, víamos que nada sobrevivera. De súbito, ficamos terrivelmente sós - e, sós, tínhamos de nos livrar de toda esta embrulhada."

Um comentário:

  1. Fico feliz que você tenha lido e gostado do livro, especialmente porque eu sei da saga da busca pelo livro. Fico tocada quando leio livros sobre guerra, tão tocada que às vezes prefiro não ler. Mas fiquei intrigada pelo post e agradeço por você ter nos brindado com suas belas palavras uma vez mais.
    sempre bom ter você por aqui...

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