"Cada libro, cada tomo que ves tiene alma. El alma de quien lo escribió y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con el (...) Los libros son espejos: sólo se ven en ellos lo que uno ya lleva dentro"

(Carlos Ruiz Zafón, La sombra del viento)

domingo, 31 de maio de 2009

O mundo infantil como janela para todo o mundo

Um tanto enfeitiçada por ilustradores de livros infantis, tenho descoberto pessoas e lugares. Hoje, ao ler em um desses lugares, percebi que o tinha de trazer aqui... Por ser espaço de leitores amigos, mas também por ser lugar de pessoas que 'leem e escrevem para contar'... :)

Não faço cópia e cola, pois o lugar é protegido, mas posso, como os antigos copistas, re-escrever.

A primeira qualidade de quem conta há de ser saber escutar o mundo, para lhe poder responder. (Ze Jam Afane, contador camaronês)

Clarice e vocês


Um dos pontos bonitos e significativos da exposição sobre Clarice Lispector que foi apresentada no Museu da Língua Portuguesa e depois veio para o CCBB foi a sala das gavetas, onde você abre e encontra mais um detalhe de texto, mais um detalhe de vida.
Clarice é especial, mas inspira outros a também serem especiais... Abram as gavetas...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mantendo a sintonia (?!)


Talvez mantendo a sintonia ou deslocando-a para a prosa poética, posto meu favorito de Clarice Lispector.
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Por não estarem distraídos

Clarice Lispector


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.


(LISPECTOR, Clarice. Por não estarem tão distraídos In: Para não esquecer. Rio de Janeiro: Editora Rocco.)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Para sintonizar...

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

O amor pela poesia...


Estou preparando um post sobre o livro que estou lendo no momento. No entanto, o post da Luaninha me fez pensar. Fiquei me perguntando quando foi que eu me apaixonei por poesia. Claro que eu sempre amei ler (já deixei isso claro em outra postagem), mas eu falo daquele momento, aquele estalar da mente. Não quando encontramos a poesia, mas quando ela nos encontra.

Amo Vinicius de Moraes. Tenho amigos que pensam até que ele é o meu favorito, todavia, o meu coração foi despertado por outro e a paixão pela poesia nasceu em uma aula de Filosofia.

Eis o texto que embala até hoje meu amor eterno por poesias novas, antigas, dramáticas, rimadas, sem métrica. Todos os tipos. Vejam também quem é o autor, meu verdadeiro favorito. Não por ter sido o primeiro, mas porque poucas coisas me alegram tanto quanto ler e reler seus escritos.


"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar... "

(PESSOA, Fernando In: Poesia Completa de Alberto Caeiro. São Paulo: Companhia de Bolso.)

domingo, 24 de maio de 2009

Poesia para uma noite de domingo

Essa será minha segunda tentativa de post; na primeira vez, eu tentei falar sobre a Clarice Lispector e sua obra "'Água Viva", mas aparentemente o blog não compartilha do meu gosto, pois não me deixou postar de jeito maneira. Como sou teimosa, eis me aqui. Resolvi adiar meu meus comentários sobre Clarice devido a uma conversa com Agnes e Roberta sobre a Fernanda Young, que acabou ficando conhecida apenas por ser uma figura polêmica ou ser uma roterista de sucessos comerciais.
Afinal, quem é Fernanda Young? Segundo a Wikipédia:
"Fernanda Maria Young de Carvalho Machado ( 1970- ) é uma escritora, atriz, roteirista e apresentadora de televisão brasileira." Ela, junto com seu marido Alexandre Machado, escreveu o seriado de grande sucesso "Os Normais" com Fernanda Torres e Luis Fernando Guimarães.
Além de escrever vários romances como "Efeito Urano", "As pessoas dos livros" entre outros, ela escreveu um livro de poesias, é desse livro que vou retirar um poema para compartilhar com vocês.
Votos de Submissão
"Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...
Use capa de chuva, não quero ter você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com o meu corpo inteiro.
E verás como minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.
Nos meses de outono eu varro sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.
O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas -
Depois plantarei para ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
para serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos relfetidos. -
Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Nào me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que meu verão resseque o seu jardim.

(Nem vou deixar - mesmo querendo - nenhuma fotografia.
Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda a minha poesia.) "

In: "Dores do amor romântico. Rio de Janeiro: Edioro, 2005.


Apesar de ser um tanto agressiva nos seus comentários e na sua escrita, acho que essa autora possui sensibilidade para retratar as sutilezas das rela
cões humanas, principalmente aquelas que não são bem sucedidas.
Bem, espero que apreciem!


Divulgando livro

Dia 24 de junho o PET tem compromisso: fingir que o que a tutora pensa tem valor...

Conflito de iluminações


Olá! Primeiro, quero dizer que é a primeira vez que posto em um blog (fui intimado a isto hehe...). Portanto, perdoem minha possível inexperiência aparente. Segundo, a leitura sobre a qual posto é obra de um autor que causou grande polêmica há uns três anos atrás (se não me falha a memória). Falarei aqui sobre “Anjos e demônios”, a mais nova onda de Dan Brown, autor do estrondoso “O código da Vinci”.

Li Anjos e demônios quase que por acaso. Na verdade, minha irmã que o comprou. Nas férias passadas, nas minhas horas livres e entediantes, resolvi ocupar a cabeça com algo interessante. Foi então que resolvi ler um livro que não tratasse dos blá blá blás acadêmicos de sempre. Foi quando deparei com “Anjos e demônios” na estante. Convidativo, resolvi me aventurar. Neste livro, Brown conta o primeiro caso misterioso solucionado por seu protagonista, Robert Langdon, o mesmo de “O código da Vinci”. Trata-se, portanto, de uma história que se passa antes da decifração do suposto código deixado pelo pintor florentino. Dan Brown narra uma história de certa forma complexa, cativante, intrigante e furiosa. Trata-se do velho e aparentemente eterno conflito entre religião e ciência; Deus e sua pretensa e orgulhosa criatura. O livro fala sobre a crescente importância da ciência no mundo atual, que se torna cada vez mais incrédulo e cegamente agarrado à razão e às comprovações dos fatos. Mostra, com isto, a decadência do poderio da Igreja Romana e a perda de interesse pelas questões espirituais. Trata do fanatismo, da loucura, do amor e do ódio, da compaixão e da indiferença, da sedução e da pureza, da pura sinceridade e do puro interesse, de anjos e demônios...
A narrativa se passa em apenas um dia: o dia do Conclave. Esta é nada mais nada menos que a reunião na qual todos os cardeais do Vaticano se reúnem na dita Cidade para eleger o novo Papa, chefe supremo da Igreja Católica Romana. Na trama temos o estranho retorno dos Illuminati, antiga seita tida como satânica pela Igreja. Inimigos declarados desta, os Illuminati acreditavam que a ciência era a única verdade válida para explicar a origem da vida e do universo. O intrigante, porém, é que a seita é considerada extinta há séculos... além disso, a ciência, quem diria, está prestes a comprovar o que parecia improvável, para pasmaceira dos incrédulos e felicidade dos religiosos... parece que o fim do eterno conflito se aproxima... contudo, isto apresenta um grande risco...
E você diz: o que tudo isso tem a ver com o conclave? Juntemos tudo: Illuminati, Conclave, revelação bombástica, ameaça de catástrofe e muito mistério e suspense...
Robert Langdon, fascinado com tudo isso, passa um dia de andanças em Roma, na tentativa de desvendar o mistério e impedir um desastre. E finalizo com a frase de um dos críticos do livro: “Anjos e demônios é um livro infernal.”
Se puder, leia... é interessante...

PS: Na sua postagem sobre o livro de Zafón, a Ag mencionou sua vontade de conhecer Barcelona. Ao ler Anjos e demônios, deixo expressa minha vontade de conhecer Roma.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Amor a primeira vista?


No primeiro período da faculdade a professora Margarida nos pediu que escrevessemos um texto sobre nossa história de leitura. Eu lembro bem qual foi o primeiro livro que eu li. Foi no C.A. Eu me apaixonei de primeira pelo "Meu Barquinho Amarelo"
Compartilho portanto a minha resposta para a pergunta da Margarida. E devolvo a pergunta, qual o primeiro livro que meus amigos leitores leram? foi amor a primeira vista?
***

Era uma vez o livro, ou vez era de um livro, quem sabe a vez não fosse do livro, mas da menina. A menina que lê e ri, que se delicia com a leitura que talvez nem ela mesma saiba o que significa.
A vez era dela, de pegar uma revistinha em quadrinhos do avarento tio patinhas, era seu momento de olhar as figuras e rir sem entender nada. Ai daquele que ousasse dizer que ela não lia. Somente as mentes viciadas acreditam que só se pode ler de olhos abertos e com uma boa dose de alfabetização. Ler é sentir o coração bater mais forte, é sentir a emoção seja ela alegria, razão ou a própria vida que se entrega como o mais difícil objeto de leitura. Lê-se de olhos abertos ou fechados, e ela lia mesmo sem saber que lia.
Quando aprendeu a decifrar os códigos que faziam dela uma menina alfabetizada, ela subiu em um barco amarelo, entrou com ele no seu livro e foi para o mar de papel navegar entre as letrinhas. “O vento foi o guia. uma beleza, que alegria! Que aventura genial.”
Quando conseguiu entender, começou a viajar. Foi quando conheceu o sítio. Amou tia Anastácia e dona Benta. Correu com Pedrinho em suas caçadas, brincou com Emília e Narizinho. Foi a um reino encantado e viu quando Emília desembestou a falar como uma matraca motorizada. Subiu em pés de jabuticaba, conversou com visconde de sabugosa e descobriu que o mundo ia muito além do que as letrinhas que acabara de descobrir. Foi quando entendeu que esse tal de Lobato tinha um jeito especial de nos fazer ler o mundo. Era uma vez a menina, ou vez era da menina de ler o mundo, com as mãos, com os olhos, com os pés. De ler nos livros, nas músicas ou nas estradas. Vez era da menina de saber e entender que a vida é a melhor leitura, mas somente se saboreamos cada palavra, cada vírgula. Cada nota, cifra ou tom. Cada pedra, desvio ou curva. Cada Lágrima, riso ou abraço. E a menina de braços abertos continua navegando em barcos amarelos, foi amor a primeira vista, e amor verdadeiro dura uma vida inteira.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Um pedacinho de Barcelona pra vocês

Em meio aos olhares turísticos é possível ter um relance de vida local. E de outro tempo também.
Imaginar os passos daqueles que viviam no prédio. Imaginar almas elaboradas como a grade ao mesmo tempo que simples como o subir e descer escadas...

domingo, 17 de maio de 2009

Sombras e jogos, ventos e anjos: Lendo C.R. Záfon...


“Cada livro, cada tomo que está vendo aqui, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma daqueles que o leram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém desliza os olhos por suas páginas, seu espírito cresce e se fortalece.”
(Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo)

Leitura é um encontro de almas. Carlos Ruiz Zafón deu a seus personagens um amor imensurável por livros em geral ou por um em especial. Porém, esse amor não é um amor sem explicação. Cada livro tem uma alma, ele é parte de seu autor e de seus leitores. Ao ler um livro você se torna parte dele e ele de você. Salvando-o do esquecimento ou da destruição, você salva a si mesmo, ao seu autor e a tantos outros rostos sem nome.
Quando um anjo o visita ou o diabo, tenha ele Corelli como seu sobrenome ou Carax, ele não visita apenas um homem ou um menino, mas alguém cuja alma vale o suficiente para ser partilhada ou destruída; alguém que tenha como melhor amigo um livro.
Zafón vai além. O entrecruzamento de histórias que existe em seus livros nos mostra uma verdade ainda ignorada: partilhar as lembranças de alguém é mais profundo do que conhecer seu corpo, seus sonhos ou seus ‘segredos’. São as lembranças que trazem ao mesmo tempo libertação e vida, ou desespero e morte. Nada é mais sombrio do que o passado; o próprio ou o alheio. Visitar um livro é conhecer almas, a de seu autor e a sua própria. É trilhar um caminho onde o tempo deixa de ser linear. Ora vemos o presente. Em outro momento, tudo é sonho de futuro e, em outros tantos instantes, é quando encontramos as sombras do passado. Dois anos e meio atrás eu fui apresentada a uma parte da alma de Carlos Ruiz Zafón. Li seu romance A Sombra do Vento em menos de um dia. Lembro-me bem daquele momento e daquela história, porque foi quando se concretizou em meu coração o gosto pelos livros. Sempre gostei de ler, desde bem menina eu leio, é de família. Porém, o encontro com o livro de Zafón marca o meu momento de amadurecimento. Acho que amadureci junto com Daniel Sempere enquanto lia sua história. Eu comecei lendo o livro ainda com meus olhos de menina e, quando terminei, era outra, não mais uma simples criança. Via a vida com outros olhos.
Ontem à noite, visitei novamente a alma de Zafón. Foi quando terminei de ler seu novo romance que, como eu, está mais maduro. Por fim, em minha alma agora levo ambas as histórias, são parte de mim e eu delas. Uma plausível explicação foi dada por Julian Caráx: "os livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro”. Eu tenho outras, mas por hora, guardo-as para mim.

Ps. Leitores amigos, que vontade de conhecer Barcelona.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Primeira postagem

Oi, leitores amigos!

Lembram do prazer da busca? Livros, documentos, conexões? Foi ele quem me inspirou em minha primeira postagem...

Não vou dizer de livros ou documentos, mas de outro blog de livros... Ele traz esse prazer da busca, da sensação de vasculhar estantes e idéias, além de ter umas imagens ótimas... Traz oportunidades de leitura, mas ele mesmo é algo que pode muito bem ser lido, ou melhor, ser lido muito bem... Nele, me informo (a postagem de explicação do nome do blog é bacana) e divirto (leiam a postagem de 2 de fevereiro "Livros Bizarros" e vão compreender o que digo). Acho que vão gostar e usar!

Enfim, em minha primeira postagem não esqueço o lugar que a PUC construiu pra mim na vida de vocês... Não nego: abrir portas (ou livros...rs,rs,rs...) me dá imenso prazer.

http://livrariapodoslivros.blogspot.com
PS: é o blog de uma livraria...

sábado, 9 de maio de 2009

Lendo Carlos Drummond


Preparei-me para postar sobre Theodor Adorno, educação e sua afirmação de que não há mais sentido na poesia depois de Auschwitz. Ao mesmo tempo comecei a ler "É isto um homem" de Primo Levi. Percebi então que preciso de um tempo para deixar toda essa realidade horrenda se ajeitar na minha mente e na minha alma. Então resolvi visitar Carlos Drummond de Andrade e seu belo poema Ausência e escrevi eu mesma minha própria canção de uma ausência. Eis então leitura de uma ausência que segundo Carlos Drummond não é falta e para mim é saudade pura, ainda que seja um "estar em mim".

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Cançao de uma Ausência

"Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. (...)ninguém a rouba mais de mim."
(Carlos Drummond de Andrade)
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Que meus olhos amem os seus ainda que ausentes
Ainda que a dor de amá-los destrua-me antes de alegrar-me
Por que sua presença ausente é amada
É desejada ainda que surja em forma de lágrimas
E falo de ti
Tudo em mim fala de ti e de teus olhos doces
Coleciono nossos sorrisos e amo as personagens das nossas histórias
E tenho medo tanto medo
Quero ouvir teus passos no presente
O passado me assombra, é dor
Conto e reconto nossas lembranças ainda que só eu as ouça e delas ria
Recordo dos teus gestos imperfeitos (me parecem tão belos agora)
E falo de ti
Tudo em mim fala de ti
Que meu coração saiba apreciar as cores da brisa, cada vento ou chuva
Pois são nossos ainda que os olhos não se encontrem
São nossos momentos
Que meus olhos amem o reencontro
Pois sei quem és para mim
Ausência
Presença
Olhares
Nada
E espero
Quem ama sempre espera
Dependerei sempre da tua alegria
Que depende sempre da minha
E meus sorrisos falam de ti
Apenas de ti
E o que fala de ti, fala de mim e de toda saudade que sinto
-
"Há quanto tempo, já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor"

Haja o que Houver - Madredeus